Dia 23 - Despedida da Filadelfia

Durante a noite tentei acessar algumas vezes o sistema da companhia aérea para ver se conseguia alterar nosso voo de volta. Mas o site apresentava erro e não avançava. A única opção viável era o cancelamento da passagem, que nos daria um crédito na companhia — algo incerto, já que nem sabíamos se um dia voltaríamos a usar.

Pela manhã, com a cabeça um pouco mais fria — embora o Mo ainda estivesse muito triste — consegui convencê-lo a continuar a viagem. Sugeri que fôssemos para o Canadá. Uma semana entre Montreal e Quebec. E ele, não muito certo disso, topou.

Começamos, então, os preparativos.

Como eu tenho visto americano e o Mo tem passaporte europeu, só precisávamos do eTA — uma autorização eletrônica obrigatória para quem vai entrar no Canadá por via aérea. O processo é simples, custa apenas 7 dólares canadenses e, quando feito no site oficial, leva só alguns minutos.

Mas aí veio a armadilha.

Ao buscar o formulário online, acabamos entrando em um site que parecia oficial — bandeirinha do Canadá, design parecido, tudo muito convincente. Depois de preencher tudo e finalizar, veio o susto: cobraram quase R$ 500 por algo que custaria 7 dólares.

Na hora, bateu aquela raiva. Tive que cancelar o cartão, contestar a compra e bloquear tudo. Um transtorno desnecessário que poderia ser evitado com atenção.
Fica o alerta: para emitir o eTA, use somente o site oficial do governo canadense:
https://www.canada.ca/en/immigration-refugees-citizenship/services/visit-canada/eta.html

Refizemos a solicitação, agora no site certo, ainda revoltada com o golpe. Fiquei resmungando o tempo todo com o site trapaceiro — que nunca deveria cobrar esse absurdo por algo tão simples. Mas, dessa vez, deu certo: em menos de cinco minutos, o eTA já estava aprovado e no celular.

Aí veio a próxima etapa: encontrar uma passagem aérea. Como sou brasileira com visto americano, só posso entrar no Canadá por via aérea. A entrada terrestre ou marítima não é permitida nesse caso — uma informação que muita gente desconhece.

Começamos a busca por passagens para Montreal. Os preços estavam altos, claro, porque tudo foi feito em cima da hora. Mesmo assim, conseguimos comprar a passagem de ida.

Para a volta, foi outra novela. Ficamos na dúvida entre avião, trem e ônibus. Simulamos datas, horários e valores… fizemos mil cálculos.

O avião seria, em teoria, a melhor opção. Havia um voo saindo de Montreal que encaixava quase perfeitamente com o nosso voo internacional, saindo do aeroporto de LaGuardia, em Nova York — com uma folga de cerca de duas horas entre um e outro. Perfeito.

Perfeito se o mundo fosse perfeito.

A verdade é que imprevistos em aeroportos são comuns. Um atraso, um cancelamento, uma fila na imigração… e pronto: perderíamos o voo de volta ao Brasil. E aí o prejuízo seria grande.

A segunda opção seria de trem. Mas são 11 horas de viagem e só tem um trem que parte às 10 da manhã. Um dia perdido!

Pesando todas as possibilidades, acabamos optando por voltar de ônibus à noite. Uma viagem longa, de cerca de 8 horas atravessando a madrugada, com parada obrigatória na alfândega, mas mais segura. Além disso, economizaríamos com hotel, com a passagem aérea e ainda evitaríamos aquele stress de aeroporto.

Foi a escolha mais sensata.

Cansativa, sim. Mas com muito menos risco — especialmente no verão, quando os aeroportos estão cheios e os atrasos são ainda mais frequentes.

Com as passagens compradas — ida no dia 6 de julho de Nova York para Montreal, e volta no dia 13 de julho, também para Nova York — o primeiro passo estava dado.

Mas ainda faltava definir como ir da Filadélfia até Nova York, o que fazer no Canadá, onde se hospedar, que passeios incluir… Tudo aquilo que o Mo normalmente leva seis meses estudando, resolveríamos agora durante os translados.

Já passava das duas da tarde e ainda não havíamos saído do quarto.

Resolvemos, então, trocar de roupa e sair para relaxar e almoçar no Reading Terminal Market — o mercado central da cidade. O lugar estava lotado, muito cheio mesmo. Sexta foi feriado de 4 de julho, Dia da Independência, e a cidade estava tomada por turistas.

Almoçamos mais uma vez um prato chinês de carne com arroz e legumes e, em seguida, decidimos fazer um tour turístico a pé pelos pontos históricos da Filadélfia.

Passamos pelo Liberty Bell, o famoso Sino da Liberdade, símbolo da independência americana. Ele tocou em 1776 para anunciar a primeira leitura da Declaração de Independência. Hoje, está exposto em um centro próprio, cercado por vidro e visitado diariamente por centenas de pessoas.

Logo em frente, fica o Independence Hall, onde foi assinada a Declaração de Independência dos Estados Unidos. É um prédio belíssimo, em estilo georgiano, e um verdadeiro marco na história do país.

Seguimos para a Elfreth’s Alley, a rua residencial mais antiga dos EUA, datada de 1703. São casinhas coloniais de tijolo, super bem preservadas, com bandeiras e flores nas janelas. Um charme só!

Também passamos pela Betsy Ross House, onde teria vivido Betsy Ross, a costureira que — segundo a tradição — costurou a primeira bandeira americana. A casa funciona hoje como museu e está localizada em uma ruazinha muito simpática.

Fizemos uma rápida visita à Chinatown da Filadélfia, que fica bem próxima do centro histórico. Mesmo pequena se comparada a outras Chinatowns nos Estados Unidos, a região é super movimentada, com lojas típicas, supermercados orientais, salões de chá e restaurantes com vitrines chamativas com patos assados e bolinhos no vapor. A entrada da área é marcada por um belíssimo Friendship Gate, um portal colorido doado por Tianjin, cidade irmã chinesa da Filadélfia.

Foi nossa volta final pela cidade — que nos encantou desde o início.

As construções históricas são lindas, muito bem cuidadas e fáceis de visitar. A cidade tem, sim, seus problemas, como a presença visível de pessoas em situação de rua, mas ainda assim vale muito a visita. É linda!

Antes de voltar ao hotel, ainda passamos na Ross Dress for Less, onde compramos uma mala nova para deixar a antiga no hotel.

No saguão, reencontramos a Roberta, que havia passado o dia em um outlet. Ficamos conversando até as nove da noite, quando resolvemos sair para jantar ali perto do hotel.

O lugar era um restaurante-bar super movimentado. Assim que chegamos, a garçonete nos avisou que a cozinha fechava às 22h. Corremos para fazer os pedidos: eu e a Roberta pedimos salada, o Mo foi de hambúrguer com cerveja.

Nem terminamos de comer e já estavam recolhendo as cadeiras da área externa onde estávamos sentados. A noite termina cedo na Filadélfia — bem diferente de Buenos Aires, onde o jantar mal começa antes das dez.

Voltamos para o hotel, nos despedimos da Roberta com a promessa de encontrá-la novamente no Allianz Park, em algum jogo do Palmeiras. 

No quarto deixamos tudo arrumado para partir na manhã seguinte.












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