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A noite no Pouso El Portal de Las Yungas, em Santa Ana, foi tranquila e quentinha. Sobre a nossa cama, havia uns cinco cobertores, além de um cobre-pé de lhama.
O cômodo lembrava a casinha do caboclo brasileiro: feito com tijolo de barro compactado, piso de cimento queimado e cobertura de palha, que escondia um teto de barro. O banheiro não tinha revestimento, mas o chuveiro era muito quente. Uma delícia! Por 150 reais a noite, estava ótimo!
Pela manhã, deixamos o lugar e seguimos pela Ruta 83, uma estrada histórica e cênica que corta a Reserva da Biosfera de Yungas, ligando Santa Ana a Valle Grande. Essa rota é conhecida por suas lindas paisagens, descendo das montanhas áridas para a floresta densa e úmida da região de Las Yungas, uma das áreas mais biodiversas da Argentina.
No caminho foi possível avistar o condor-andino, uma das maiores aves voadoras do mundo. Com envergadura que pode chegar a 3 metros, ele sobrevoa os cânions e vales da região, aproveitando as correntes de ar quente para planar.
Descemos dos 3.200 metros de altitude até 1.500 metros, passando por Valle Colorado e Balle Grande, chegando a San Francisco, uma pequena vila dentro do Parque Nacional Calilegua. Foram 90 km de estrada sinuosa, com curvas fechadas e precipícios, mas a vista compensava: conforme descíamos, a paisagem mudava drasticamente, das montanhas secas para uma floresta exuberante.
Chegamos a San Francisco, e o Mo havia me prometido um almoço dos deuses. Ele comentou que a vila tinha muitos restaurantes e mais de 20 pousadas.
Mas, ao completarmos o trajeto, às duas da tarde, encontramos um vilarejo minúsculo, com apenas três ruas e tudo fechado—exceto dois ou três “comedores” perto da “rodoviária”. Escolhemos o que tinha “vista” e pedimos o cardápio. O atendente do Comedor Cerro Hermoso, um indígena local muito solícito, nos informou que, àquela hora, havia apenas uma opção: frango ensopado com arroz.
E esse foi o nosso almoço maravilhoso do dia. Mas até que estava bem bom.
Nosso plano inicial era passar a noite na vila, mas eu não quis. Os passeios envolviam trilhas longas no meio da mata, passando por cânions e cachoeiras do parque. Além disso, ainda teríamos quase 40 km de estrada sinuosa e precipícios pela frente, atravessando a floresta densa. A previsão indicava 50% de chance de chuva para o dia seguinte.
Não quis arriscar. Nem a pau.
Almoço de hoje no comedor Cerro Hermoso - 40 reais cada prato. |
Comedor Cerro Hermoso |
Fluente Del Jaguar |
Povoado San Francisco |
O Mo atendeu ao meu pedido, e seguimos para dentro do Parque Nacional Calilegua. Nosso destino era o Camping Águas Negras, às margens do rio San Lorenzo.
Chegando lá, passamos por uma pequena portaria onde o guarda-parque nos entregou uma ficha para preenchermos. A apenas 200 metros dali, já havia a indicação do local destinado ao nosso acampamento.
O camping é rústico—o que eles chamam de “agreste”. Há banheiros, chuveiros frios e uma área para churrasco. Não cobram qualquer valor. É gratuito.
Fomos recepcionados por milhares de borrachudos! Quis sair correndo! Mas, depois de levar uma infinidade de picadas, resolvi ignorar. Não havia o que fazer.
Montamos a Camper, e deu tudo certo.
Agora estamos aqui, sem internet, apenas apreciando a paisagem e esperando a noite cair para irmos jantar e dormir.
Antes disso, distribuímos torradas para uns pássaros pretos bem bonitos, que emite uns sons estranhos—e nos recolhemos.
Amanhã tem mais.
- Norte da Argentina
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