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Todos os dias cruzamos povoados muito pequenos. Muitos não tem nem 100 habitantes. Vivem de comércio e do campo.
Tem lugares que entramos e saímos sem sequer ver um ser humano. Brincamos que foram abduzidos.
Quando caminhamos longamente como hoje, 17 km, sem vila, sem bar, sem banheiro, avistar um telhado ou uma torre de igreja é um alívio. Quer dizer que chegamos em algum lugar!
O caminho acolhe todo tipo de peregrino. O turisgrino tradicional, que se desloca de van ou ônibus de um ponto a outro, dorme em hoteis ou albergues. Tem o turisgrino ocasional, aquele que cansado de caminhar ajeita um transporte rápido para a próxima cidade, que pode ser taxi, bicicleta, ônibus e até charrete! Tem o bicigrino, que faz todo o percurso de bicicleta, está sempre sujo de barro nas costas e ocasionalmente reclama de dor na bunda. Tem o peregrino Nutella light, está sempre de Quechua, despacha a mala todos os dias e anda no máximo 20 km por dia. Tem o Nutella hard, que está de Quechua, mas carrega a maldita mala enquanto as pernas aguentarem. Tem o peregrino raiz light, com aquele aspecto de bicho grilo, dorme em albergue paroquial e sua mochila é compatível com a jornada. Por último tem o peregrino raiz hard, que tem aquele cabelo com aspecto de que não é lavado a uma semana, com uma mochila imensa por causa da barraca e as roupas um pouco desbotadas e sujas de tanto sol e chuva.
Ou seja... Tem um caminho pra cada um. Ninguém tem desculpa para não fazer o Caminho de Santiago!
Todos esses tipos carregam consigo uma credencial que deve ser carimbada duas vezes ao dia em albergues ou estabelecimentos comerciais pelo caminho. Isso vale religiosamente para os últimos 100 km.
No percurso encontramos as mais diversas nacionalidades e todos conseguimos nos comunicar de alguma forma. Inglaterra, França, Alemanha, Portugal, Finlândia, Croácia, Eslovênia, Brasil, Uruguai, Colombia,Argentina, USA, Taiwan, Coreia, Japão, Uruguai e tantos outros que não pudemos identificar.
Depois de Burgos os asiáticos invadiram o caminho, principalmente jovens. Engraçado que alguns deles nem sabem o que é uma bíblia!
Umas brasileiras que encontramos ontem, do Rio Grande do Sul, percorreram uma parte do caminho com um oriental. O velhinho parava em toda cruz e perguntava: Hiday? (He died?)
E elas diziam não! Até que uma hora resolveram dizer que sim. Aí ele parava e fazia uma oração. No final do dia o nome do velhinho oriental era Hiday!!!
Onde será que foi parar o Hiday?
Hoje chegamos na metade do caminho. Percorremos perto de 400 km se computarmos os passeios dentro das cidades. Achamos e perdemos muitos peregrinos por aí, mas surgirão muito mais. A medida que Santiago se aproxima se avolumam os peregrinos e os albergues começam a ficar lotados.
De agora em diante corremos o risco de não acharmos vaga nos albergues tradicionais.
Por enquanto nossos amigos madrugadores tem reservado lugar pra gente. Eles chegaram umas três horas antes de nós.
Como de costume paramos para o lanchinho da manhã e para o almoço onde o cozinheiro era brasileiro da Bahia, vivendo aqui a 12 anos. O frango tinha gosto de Brasil.
Aliás, a comida por aqui mesmo quando é ruim, é boa. Só sinto falta do arroz que aqui foi substituído por batata.
Em Terradillos de Los Templários nos reunimos a nossos amigos no albergue Jacques de Molay, por 8 euros cada.
O Mõ está com o tornozelo inchado. Achamos que é o tendão. Amanhã seremos peregrinos light e despacharemos nossa mala.
Trinta quilômetros nos esperam a frente.
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